terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O uso desonesto das informações do Wikileaks

O Wikileaks liberou duas grandes levas de documentos sigilosos do governo americano. A primeira leva revelava segredos sobre a ocupação militar americana no Afeganistão e Iraque. A segunda leva tem se revelado um conjunto de telegramas (cabos) enviados por embaixadores americanos, relatando as suas impressões sobre governos, seus membros e suas ações.

Notem que no primeiro caso, são os EUA falando sobre os EUA, portanto esses documentos ganham o status de confissão e as informações ali contidas tem grande possibilidade de serem verdadeiras. No segundo caso são apenas impressões que tinham os embaixadores, que poderiam muito bem enfeitar alguns pavões para venderem o peixe de interlocutores bem informados para Washington, ou seja, a revelação dos documentos apenas constrange a diplomacia americana, da forma como se referem aos governos, pessoas e ações de outros países.

Pois a imprensa brasileira, sempre sensível a falta de liberdade de expressão em países não alinhados aos EUA, ou entendeu tudo errado ou mais uma vez costeou o alambrado, para fazer o papel de capacho obediente. Quando o Wikileaks revelou crimes americanos cometidos no Afeganistão e Iraque foi aquele silêncio ensurdecedor. Depois, quando a prisão de Assange o tornou praticamente um mártir se portaram com esquizofrenia, repetindo as acusações de crimes sexuais como se fossem verdadeiras. Chegaram até a liberar colunistas a chamá-lo de cyber-criminoso, mas com medo de se posicionarem mais uma vez contra a opinião pública, se esquivaram de opinar nos editoriais.

Agora resolveram se interessar pelos documentos revelados pelo Wikileaks, e embora preferissem Assange preso e depois assado em uma cadeira elétrica americana, passaram a peneirar telegramas enviados à Washington por embaixadores americanos no Brasil, e tratar as divagações diplomáticas como se fossem verdades incontestáveis.

Enquanto no mundo inteiro a revelação desses telegramas tem causado desconforto a diplomacia americana, para a nossa imprensa quem sai afetado é o citado porque pelo raciocínio cartesiano de colonizado, se os EUA falaram é porque é verdade, simples assim.

Esse episódio Wikileaks serviu para tirar a máscara de muita gente aqui da nossa imprensa. Eu já estava incomodado com aquela pose de vestais da liberdade de imprensa com todos aqueles editoriais pomposos e fajutos que criticavam uma tentativa legítima de implantar um marco regulatório em um setor fundamental para a cidadania como o das comunicações. A verdadeira face é essa que estamos vendo, a liberdade de imprensa que eles defendem é essa relativa, hipócrita e incoerente.

Fariñas, Sakineh, Liaobo… toda a solidariedade da nossa imprensa a dissidentes cubanos, iranianos e chineses…ao Assange o peso da lei. Nesse exato momento o pentágono tenta “convencer” o soldado americano preso Bradley Manning a culpar Assange a forçá-lo a roubar os documentos americanos, para acusá-lo de espionagem e conspiração. Como a Wikileaks revelou como são “persuasivos” os métodos que as forças armadas americanas usam contra seus prisioneiros em lugares como Guantanamo e Abu Graib, não tenho dúvidas que o americano vai dizer que o australiano o ameaçou de fazer sexo com ele sem camisinha se ele não roubasse o material ultra-secreto. Também não me surpreenderia se algum prisioneiro dos atentados de 11/09 resolva “colocar” Assange na Al Qaeda e na preparação para aquele ataque de 2001;

Vai ser muito divertido ver o malabarismo que a nossa imprensa vai fazer para tentar defender essa ação vergonhosa e descarada, e não duvide, se eu conheço o nível de capachismo dessa gente, eles vão defender que Assange espionou. PT PETROLINA

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