DIÁLOGO DA CAIXA PRETA
Caixa-preta indica que Learjet caiu por falha no abastecimento
Diálogos mostram que pilotos perceberam tarde demais o desequilíbrio no volume de combustível nos tanques
A transcrição dos diálogos da caixa-preta do Learjet 35, que caiu sobre casas nas imediações do Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, matando 8 pessoas, em 4 de novembro, sugere que o acidente foi motivado por um desequilíbrio na quantidade de combustível dentro dos tanques. Embora ainda não descartem outras linhas de investigação, peritos da Aeronáutica estão empenhados em reconstituir as últimas horas do jato em vôo e no solo. O objetivo é verificar se a possível falha ocorreu durante o abastecimento ou se houve pane nas bombas que transferem querosene de uma asa para outra.
O que intriga os militares é o fato de nem o piloto Paulo Montezuma Firmino, de 39 anos, nem o co-piloto Alberto Soares Júnior, de 24, terem percebido o suposto desbalanceamento. De acordo com diálogos publicados pelo Diário de S. Paulo, segundos após a decolagem o co-piloto percebe que algo estava errado. “A roda estava torta. Acho que... Vixe!!! Compensador”, diz Soares Júnior. Apesar da menção ao compensador - conjunto de aerofólios que ajuda a dar estabilidade ao avião -, especialistas ouvidos ontem pelo Estado consideram improvável que estivesse desregulado.
“Todos os elementos levantados até agora apontam para um desbalanceamento de combustível”, diz o diretor-executivo da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), Adalberto Febeliano da Costa. “Um problema desses durante a decolagem torna-se crítico.” Na avaliação dele, o piloto pode ter se descuidado da supervisão do vôo. “O co-piloto estava no comando, mas era extremamente jovem e ainda não tinha concluído o processo de instrução.”
Pela própria concepção do Learjet, o abastecimento requer cuidados especiais. O modelo 35 possui um tanque em cada asa, além de dois reservatórios na ponta delas. Para evitar que o avião fique mais pesado de um lado, o abastecimento deve seguir uma proporção. Ou seja: se forem colocados 100 litros de querosene em uma asa, a outra deve receber a mesma quantidade. Os pilotos devem verificar se o procedimento foi feito corretamente, observando a indicação dos liquidômetros no painel da cabine. Caso detectem desbalanceamento, basta acionarem as bombas de combustível para transferir o querosene de uma asa para a outra.
Em 1995, uma pane nas bombas de combustível derrubou um Learjet 35 da Força Aérea Americana, no Estado do Alabama, matando os dois pilotos e mais seis passageiros.
Procurada ontem, a tia do co-piloto, Elena Piazza, disse que prefere não se manifestar sobre a transcrição publicada na imprensa. Já um dos familiares do piloto, que não se identificou, afirmou por telefone que a família ficou indignada com a forma sensacionalista que o diálogo foi publicado pela imprensa.
ÍNTEGRA DO DIÁLOGO
Paulo Montezuma Firmino (piloto): “V1-rotation” (termo técnico para informar a decolagem do Learjet)
Alberto Soares Júnior (co-piloto): “A roda estava torta. Acho que...vixe!!! Compensador!”
Firmino: “Caralho! Tá desbalanceado!”
Firmino: “Caralho!”
Firmino: “Arruma esse combustível pra mim!”
Soares Júnior: “Tô colocando!”
Torre de controle: “Vire à esquerda após a decolagem.” ( o Learjet inclinava-se para a direita, quando a rota correta seria seguir à esquerda)
Soares Júnior: “Tô jogando!”
Firmino: “Caralho! Vou morrer!”
Soares Júnior: “Ai, não!”
Soares Júnior (com voz de desespero): “Nããão! Nããão! Nãããão, velho!”
Soares Júnior: “Não!”
Firmino: “Caralho! O que você fez, viado!?”
Soares Júnior: “Ai, ai!!!”
Fim da gravação
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