quinta-feira, 5 de agosto de 2010

DO TIJOLAÇO 05/08/10

O ovo da serpente

Alertado pelo Carlos, um dos nossos comentaristas, fui ler e fiquei perplexo com a entrevista publicada no Terra, em que um porta-voz de um movimento de jovens universitários de São Paulo destila os preconceitos contidos no movimento batizado de “São Paulo para os paulistas”. O que me choca mais é que tal pensamento fascista esteja presente em jovens, entre 18 e 25 anos, supostamente esclarecidos, que estão nos bancos das universidades, inclusive públicas.

O movimento ataca a migração, especialmente a nordestina, e chega às raias de afirmar que os “migrantes não construíram São Paulo por serem alocados na construção civil”. O porta-voz do grupo, Williams Godoy Navarro, de apenas 22 anos, confirma o equívoco dessa visão dizendo que “quem constrói São Paulo não são os pedreiros. São os empresários, os investimentos aplicados na cidade, feitos por paulistas. Falar que outras pessoas construíram a cidade é absurdo. Eles trabalharam, usaram sua força de trabalho. Não significa que construíram São Paulo. Esse prédio que você trabalha, por exemplo, não foi construído por migrantes…por pedreiros. Foi construído pela empresa que investiu, que financiou o projeto. Entendeu o ponto de vista do manifesto?”

O desprezo pela força do trabalho revela a mesquinhez absurda desses jovens. Será que eles acham que São Paulo foi construída por quem? De onde surgiu o capital que pagou a mão-de-obra que eles tanto desprezam? São Paulo é um caldeirão de culturas não só do Brasil, mas do mundo. Não existe cultura de São Paulo, algo original, puro e superior, como a ideologia nazista. São Paulo é do Brasil e não dos paulistas como prega o infeliz movimento.

Os jovens do grupo rejeitam o ensino da cultura nordestina nas escolas e seu porta-voz diz que os alunos saem do Ensino Médio e não sabem o que foi a Revolução Constititucionalista de 1932. Seria muito importante que soubessem, mas verdadeiramente. Que se tratou de um movimento para manter os privilégios da oligarquia cafeeira diante de uma revolução que iniciava a transformação do país, misturado a idéias separatistas, explícitas no lema “Tudo por São Paulo”.

O atual movimento nega ser separatista, mas conhece bem o Movimento República de São Paulo, separatista, e deixa entrever ligações perigosas. “A gente apoia o MRSP, mas não apoia a ideia de separar São Paulo do Brasil”, diz o porta-voz. Como assim? Como é possível apoiar um movimento separatista sem apoiar a separação?

Não há uma resposta do porta-voz do movimento em que não se perceba rancor, preconceito, xenofobia e arrogância. A entrevista chega a assustar com declarações de que “São Paulo não deve nada ao Brasil” e que “o dinheiro dos impostos, das indústrias e do povo de São Paulo é revertido para outros Estados, ao invés de ser aplicado novamente aqui”. Tenho certeza de que um movimento como esse jamais deixará de ser minoritário, mas é preciso estar atento para que não se deixe desenvolver esse ovo da serpente.



Dilma dispara e ninguém mais segura

A pesquisa CNT/Sensus confirmou o que se percebe nas ruas e em qualquer lugar do país. Dilma é a preferida do eleitor, que deseja a continuidade das políticas do governo Lula e não acredita na manipulação de certos institutos. Enquanto Dilma vem em trajetória ascendente, Serra não sai da faixa dos 30%, o que sinaliza que atingiu seu teto. O tucano já vai nocauteado para o debate de hoje à noite na Bandeirantes.

A vantagem de Dilma, que já era evidente nas ruas, foi confirmada quando o Vox Populi apontou, no dia 23 de julho, que ela estava oito pontos percentuais à frente de Serra. O resultado era o que mais se assemelhava ao que se percebia em quase todo o país, e o Ibope, divulgado uma semana depois, confirmou isso, mesmo reduzindo a vantagem para cinco pontos.

Nesse interim, o Datafolha ainda forçou uma barra com sua mirabolante pesquisa divulgada no dia 26, que apontou empate técnico, com Serra à frente, mas a onda já era incontrolável. Tanto que o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, admitiu que a próxima pesquisa de seu instituto deverá dar uma diferença de 8 a 10 pontos para Dilma, e que o Datafolha deve convergir para os resultados dos demais institutos.

Sem rabo preso com Serra, Sensus e Vox Populi já registram a vantagem de Dilma há muito tempo. Em maio, os dois institutos mostravam Dilma à frente de Serra, mesmo ainda dentro da margem de erro. O desespero tucano foi tão grande ao ver que a eleição começava a ir pro brejo tão cedo que entraram na Justiça Eleitoral contra o instituto Sensus, com o devido apoio da Folha de S.Paulo, que percebia que as manipulações de seu instituto não tardariam a ser desvendadas. O Tribunal Superior Eleitoral considerou a pesquisa do Sensus correta, desmascarando a farsa evidente

O Sensus realiza pesquisas tradicionalmente junto ao eleitorado e a sondagem divulgada hoje é a 102ª sem que jamais sua lisura tivesse sido posta em xeque, como fizeram os tucanos e a Folha em nome de uma armação sórdida que visava sustentar o candidato sem votos. Quero ver agora se o PSDB vai recorrer à Justiça eleitoral contra o resultado.

A eleição só não está definida ainda, porque Serra, Marina e os demais candidatos somam 44,5%, contra 41,6% de Dilma, o que levaria a disputa para o segundo turno, onde Dilma também bate Serra. Mas isso é apenas uma questão de tempo. A onda Dilma tende a se tornar uma tsunami quando começar a propaganda na televisão e ficar claro que Lula é Dilma e Dilma é Lula. Qualquer analista honesto percebe isso. Montenegro, que fez mea culpa por ter atribuido um teto de 30% a Dilma, que na verdade é o de Serra, já reconheceu: A eleição para presidente será decidida no primeiro turno.



CNT/Sensus: Dilma abre 10 pontos sobre Serra

Do Estadão, agora há pouco:

A vantagem da candidata do PT à presidência da República, Dilma Rousseff, sobre o adversário do PSDB, José Serra, passou de 2 para 10 pontos percentuais na pesquisa Sensus divulgada nesta quinta-feira, 5, pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

Dilma aparece, nesta pesquisa, com 41,6% das intenções de voto contra 31,6% do candidato tucano. Marina Silva, do PV, tem 8,5%. A pesquisa foi feita entre os dias 31 de julho a 2 de agosto com 2 mil pessoas de todo o país. A margem de erro é de 2% para mais ou para menos.

Zé Maria, do PSTU, tem 1,9% das intenções de voto. Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, 1,7%. José Maria Eymael (PSDC) aparece com 0,5%, Ivan Pinheiro (PCB), Levy Fidelix (PRTB) e Rui Costa Pimenta (PCO) aparecem com 0,1% cada. Brancos e nulos somam 3,4% e 10,9% não souberam responder.

Na última pesquisa CNT/Sensus, divulgada há três meses, Dilma tinha 35,7%, José Serra 33,2%, e Marina Silva 7,3%. O resultado foi considerado empate técnico entre os candidatos do PT e do PSDB.

Segundo turno

A CNT também apurou um cenário em que Dilma e Serra disputariam o segundo turno. Neste caso, a petista venceria com 48,3%, contra 36,6% do tucano. Na última pesquisa, em maio, Dilma tinha 41,8% e Serra 40,5%. Em janeiro, o candidato do PSDB ainda aparecia como vencedor do segundo turno com 44% contra 37,1% de Dilma.

Caso Marina Silva disputasse o segundo tuno com Dilma a vitória da petista seria ainda maior: 55,7% contra 23,3%. Em maio o placar tinha ficado em 51,7% contra 21,3%. Na última lista, Marina Silva disputaria o segundo turno com José Serra. Neste caso, sairia eleito o candidato do PSDB com 50% contra 27,8% da candidata verde. Em maio este cenário era: 50,3% x 24,3%.

Espontânea

Na pesquisa espontânea – quando o entrevistado responde em quem pretende votar para presidente sem ter os nomes dos candidatos disponíveis – a maioria, 30,4%, respondeu que votará em Dilma Rousseff. José Serra foi lembrado por 20,2% dos entrevistados e Marina Silva por 5%. O presidente Lula, que não pode disputar um terceiro mandato, também foi citado por 5%.

Rejeição

A candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, tem 63,4% na lista da pesquisa CNT/Sensus que aponta o limite de voto dos candidatos. Nesta opção, Dilma foi apontada como única candidata em quem o entrevistado votaria por 34,6% e como candidata que “poderia votar” por 28,8%. A taxa de rejeição dela é de 25,3%. Em maio, Dilma tinha 60% de teto de voto e 26,1% de rejeição.

A maior taxa de rejeição é de José Serra: 30,8%. Em maio era de 29,5%. Em contrapartida o limite de votos dele, entre os que o tem como único candidato ou possível candidato, é de 58,1%, contra 61,5% apurados em maio. Marina Silva tem teto de votos de 51,6% e taxa de rejeição de 29,7%. Em maio esses índices eram de 43,6% e 34,4%.

Apesar de Dilma Rousseff ser apontada como candidata de 41,6% dos entrevistados da pesquisa CNT/Sensus, é maior o número de eleitores que acreditam na vitória dela: 47,1%. José Serra, apontado como candidato de 31,6%, é citado como provável vitorioso das eleições por 30,3%. Marina Silva deve ser eleita para 2,2% dos entrevistados. Ela é indicada como candidata por 8,5%.



Emergente, agora, é o povão!

A excelente reportagem de Isabela Bastos, na edição de hoje de O Globo éa melhor notícia para quem ama o Rio de Janeiro de verdade, porque entende esta cidade como a soma de sua beleza natural com o seu povo. O Rio dos cariocas – tão generoso que sabe que ser carioca é uma condição que vai muito além dos limites do munícipio, entra pela Baixada, atravessa a ponte, pega o avião e reúne todo mundo que gosta de uma vida alegre, fraterna, simples e feliz – está caminhando na direção de deixar de ser a “cidade partida”, expressão de Zuenir Ventura que ficou famosa para defini-la.

Vocês me desculpem se não estou sendo objetivo, mas é difícil ser objetivo quando se está feliz. É que a matéria de Isabela mostra que está acontecendo algo que recupera a cidade de uma forma que mesmo os nossos governantes mais bem intencionados, os que enxergam nosso povo por inteiro, puderam fazer, por falta de meios, sobretudo a falta de política habitacional neste país.

Mas vou tentar: é que a reportagem mostra, com base nos dados do serviço de licenciamento de construções da Prefeitura, que mudou radicalmente o panorama da indústria imobiliária da cidade. Agora, a zonas Norte (incluindo os subúrbios)e Oeste tomaram o lugar da Barra da Tijuca como pólo de desenvolvimento de novas habitações.

O Globo publica na internet apenas um resumo, mas o gráfico que está no jornal impresso e que reproduzo mostra com uma clareza solar que emergente, agora, no Rio, é o nosso povão. O número de licenciamentos de unidades habitacionais total cresceu, comparando-se o acumulado do primeiro trimestre de 2009 para 2010, em quase 90% (de 4.993 para 8.999), consideradas apenas aquelas três áreas. Mas a Zona Oeste ( 367%) e a Norte (317%) foram as grandes vedetes desta explosão.

Quando a criação de novas moradias ficava quase que exclusivamente por conta do “mercado”, dois terços dos licenciamentos – sempre considerando apenas as três áreas, sem considerar Centro e Zona Sul, onde o número de novas unidades é sempre baixo, pelo adensamento) ocorriam na Barra da Tijuca, uma alternativa para a classe média-alta e alta, pela disponibilidade de áreas livres. Para as zonas Norte e Oeste, ficavam apenas 33,5%.

Com o lançamento do “Minha Casa, Minha Vida” o panorama mudou radicalmente. Agora, as Zonas Norte, com os subúrbios, e a Oeste ficam com 80,3% das novas unidades autorizadas no primeiro trimestre de 2.010. Recuperou-se a proporcionalidade entre a o número de habitantes de cada região e o número de moradias nelas construídas.

Até mesmo para a Barra da Tijuca esta é uma boa notícia. Sinal de que diminui a pressão da especulação imobiliária sobre a região, que tem enormes problemas de tráfego e de preservação ambiental.

Agora, diante disso, é necessário que a Prefeitura da Cidade reflita sobre a necessidade de direcionar suas ações considerando este crescimento. Estas regiões, faz tempo, recebem menos investimento público, menos conservação, menos serviços. Estão aí os números mostrando que isso não pode seguir assim.

Uma cidade equilibrada e justa, num país equilibrado e justo, é um lugar onde se vive melhor, onde se vive com mais felicidade, onde se pode, afinal, ser carioca de verdade. Não uma onde tínhamos de fazer conviver uns poucos “emergentes” e uma multidão de “submergentes”.

Viva o Brasil de todos os brasileiros e viva o Rio de Janeiro de todos os cariocas, de todos os bairros, de todas as regiões, até mesmo de todos os lugares, como aqueles que o Rio adotou como filhos e os que querem, uma vez que seja na vida, olhar o mar e a montanha e as pessoas e dizer, de coração: que cidade maravilhosa!



Os conteúdos aqui expostos, são do ponto de vista total e completamente do autor do blog.

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